<< Mário Pinheiro (foto)
A gravação do lundu Isto é Bom pelo cantor Baiano
para a Casa Edison em 1902 foi o pontapé inicial para as gravações dos
incontáveis próximos discos que a gravadora viria a fazer desde então. Nesta
postagem vamos falar um pouco do que foi registrado na primeira década das
gravações fonográficas no Brasil (1902-1909). Como todo o início, nessa década
a gravação era uma ferramenta muito inovadora para a época e despertava a
curiosidade de todos que ouviam falar sobre ela. Só que como o gramofone (equipamento
mecânico para reproduzir som) era importado e muito caro, a aquisição e a
popularidade durante este período prosseguiu de forma muito lenta pela
população. O gramofone viria a se popularizar somente na segunda metade da próxima
década, e mesmo assim não era uma popularização em grande escala. Numa época em
que tudo era mais difícil e não havia tecnologia, existiam os seresteiros desde
o século passado, que ao som do violão entoavam famosas modinhas pelas ruas
desertas à luz do luar e/ou abaixo das janelas das suas amadas, através de
lindas e melodiosas serenatas. Sim, essa era a época em que o famoso amor
platônico parecia existir. Época das moças de família, das donzelas, dos
coronéis, dos cavalheiros, do respeito mútuo ao próximo, muitas vezes de forma até
exagerada. Eram outros tempos...Tempos de uma sociedade extremamente
conservadora e de princípios, quando se jurava o amor eterno e se constitua a
família tradicional, onde a mulher casava virgem, envelhecia e morria ao lado
de um homem somente.
Voltando às obras, podemos dizer que muitas das modinha
cantadas e gravadas dessa época, foram regravadas posteriormente por cantores
das gerações seguintes, e na maioria das vezes com êxito. Muitas são de domínio
público e fazem parte da história e do folclore brasileiro, sendo extremamente
conhecidas e cantadas até hoje pelos boêmios.
<< Eduardo das Neves (foto)
Vale ressaltar que as gravações realizadas neste período
pela Casa Edison possuem mais um valor histórico do que qualquer outra coisa,
pois o sucesso era uma palavra que ainda nem tinha significado na música. Não
existiam paradas, nem ídolos. Porém, em termos históricos e de relevância, pela
significativa qualidade e quantidade dos materiais, podemos citar pelo menos
quatro artistas nacionais que se destacaram em suas gravações neste período.
São eles: Bahiano, Mário Pinheiro, Eduardo das Neves e Patápio Silva, e dentre
os compositores, Chiquinha Gonzaga (Ó Abre Alas), Ernesto Nazareth (Escovado), Catulo da
Paixão Cearense (Luar do Sertão), entre outros. A Banda da Casa Edison
também gravou inúmeros registros de diversos ritmos, a também banda do Corpo de
Bombeiros, dentre outras. Internacionalmente, entre os nomes em evidência dessa
época, podemos citar principalmente o famoso tenor italiano Enrico
Caruso (O Sole Mio) e o barítono americano Emilio de Gogorza (La Paloma).
Dentre as lendárias modinhas e outras canções que eram muito
populares e cantadas nessa primeira década, podemos citar: Casinha Pequenina,
gravada em 1906 por Mário Pinheiro, Perdão, Emília, gravada
primeiramente em 1903 pelo Bahiano e nos anos seguintes por Mário Pinheiro e
Eduardo das Neves, O Talento e a Formosura, A Casa Branca da Serra, Por um
Beijo, Primeiro Amor, A Pequenina Cruz do Teu Rosário, Quem
Sabe? (Carlos Gomes), Se Soubesses, O Gondoleiro do Amor (Castro
Alves), Pálida Madona, Stella, Rasga o Coração, O
Sertanejo Enamorado, Corta-Jaca, Bolim Bolacho, entre
outras que atravessam gerações.
Sobre o cantor Bahiano já falamos na postagem anterior.
Já o cantor e violinista Mário Pinheiro, nasceu em 1880 e faleceu ainda jovem,
aos 43 anos, em 1923, muito doente e na pobreza. Sua contribuição foi muito
importante na música brasileira, deixando um grande legado, assim como Eduardo
das Neves, nascido em 1874 e falecido em 1919. Das Neves foi palhaço, poeta,
cantor, compositor e violinista. Além disso, é pai do respeitado músico Cândido
das Neves, dono de belíssimas e conhecidas composições eternizadas nas décadas
de 20 e 30 por Vicente Celestino e Orlando Silva.
O músico, compositor e flautista de choro e erudito, Patápio
Silva, nascido em 1880 e falecido em 1907, com apenas 26 anos, foi considerado
um dos maiores flautistas da história e serve de referência até os dias atuais,
através de suas inesquecíveis obras.
Obs: A
famosa Saudades do Matão (Francana) foi composta neste período.
Acesse
abaixo alguns desses registros históricos citados nesta postagem:
Primeiro Amor, Patápio Silva, 1904.
Casinha Pequenina, Mário Pinheiro, 1905.
Bolim Bolacho, Eduardo das Neves, 1908.
Escovado, Ernesto Nazareth, 1905.
A Casa Branca da Serra, Mário Pinheiro, 1904.
A Conquista do Ar, Banda da Casa Edison, 1904.
Perdão Emília, Bahiano, 1903. (Abaixo regravação de Francisco
Petrônio e Dilermando Reis)
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